1. |
Ursa Maior
03:51
|
|||
Chega de luzes de natal
Me faça sorrir, Ursa Maior
E me vista com suas roupas
Incandescentes, in natura
E me leve com você
Tenho muito a esquecer
Pensamentos são como água
Que, parada, cria larvas
De aparência descomunal
Mas seus gritos não me atormentam
Nem o entardecer nesta terra estranha
Eu preciso renascer,
Pois meus medos não me assustam mais.
|
||||
2. |
Cartagena
05:44
|
|||
Eu balanço a cabeça, afirmando
Eu percebo isso com aflição
Só não me impressiono mais, amor
Eu só não me impressiono mais.
Não há palavras a se apegar
Você bafora na minha cara tua excitação
E nada de genial se psicografa na fumaça,
O que a dissipa também não é grande coisa.
Como o que jaz não se sente ao levantar
Passou do tropical toda vontade,
Chegou a flor congelada da idade
Aconchegada num futuro ansioso
Não me ofereça o seu apetite,
Não me conforme, nem me desafie
Eu só não me impressiono mais, amor
Eu já não me impressiono mais.
|
||||
3. |
É Mister Saber
05:33
|
|||
Dormir hoje me são inúteis tentativas
Há algo errado comigo e desta vez vai me levar
Ao mistério que dorme além dos negros véus
À experiência singular, como partes íntimas
Deixe meu coração falar
Como anfitrião na ceia de natal
Deixe-o dizer como viver pode ser fatal
Se vago errante, meu corpo é máquina
Ultrapassada, prestes a falhar, a sugerir a falha
Fagulha que se extingue
Antes de encontrar líquido inflamável
Atente-se à alegoria
Das taças como metáforas
Deixe meu coração falar
Como anfitrião na ceia de natal
Deixe-o dizer como viver pode ser fatal
(Deixe-o viver)
|
||||
4. |
Destinos Extraviados
05:12
|
|||
O sangue na sua camisa,
resquício da briga contra o espelho
Incrédulo, ele imaginava
mais de mil destinos, mais de mil pesadelos
A mão na tela que dizia em letras garrafais
"NÃO ME PROCURE MAIS!"
Pegou a sua melhor camisa,
atravessou a rua até a tabacaria
Era domingo. Cidade morta.
E a bela moça sorrindo no cartaz imundo
trouxe mais desgosto
Fazia frio. Bateu na porta
e como havia previsto ninguém lhe atendeu,
então desesperou-se
Após esse evento trágico
que lhe denunciou o quanto é sozinho
pegou seu uísque e seu violão
Na carta a sua amada, em letras maltratadas
mais uma despedida
A carta se extraviou,
mas nunca lhe chegou essa informação
Trancou a casa. Tinha o desejo
de nunca mais voltar ali
onde ninguém havia lhe reconhecido
Olhou pra trás na esperança
talvez se surpreenderia
com a sua amada cruzando a avenida,
correndo desesperada
pedindo que ficasse ao menos mais um dia
Naquele mesmo horário
a umas duas cidades dali
havia uma garota lendo uma tal carta
em letras maltradas
Chorou sem saber por que
quando leu uma simples frase
quase ilegível, quase indecifrável:
"O amor que eu te dei
já não sei onde está.
Viajo porque preciso encontrar
o que você não me deu,
o que eu nunca pedi"
Coincidência ou não
o fato é que nunca se encontraram
E seus mais de mil destinos
se extraviaram
Ele vagava sem se cansar
procurando o garoto que se perdeu
nas curvas daquilo que ele chama
equivocadamente de Eu
Nas curvas daquilo que ele chama
metaforicamente de estrada
Nas curvas daquilo que ele pragueja
silenciosamente: vida.
|
||||
5. |
Demiurgo
04:47
|
|||
Hoje, o céu no fim da estrada era um portal
De alguma suntuosa capital
E seus traços singulares revelavam
Um pouco de cada vida
De seus habitantes moribundos
E o paraíso também abriga
Noites mal dormidas
Penso que lá também existam
Palavras proibidas
Há gastura, gatos nos telhados
Noites e bebidas quentes
Há placebos hipocôndricos
Pastilhas efervescentes
Hoje, o céu no fim da estrada era uma brecha
Um grande talho na cortina de Ganesha
Deus estava bem sentado numa cadeira de vime
E xingava os jogadores do seu time ("filhos da puta!")
|
||||
6. |
||||
Me vi do céu, de onde saí
mirei o mar, estava ali
no mesmo barco naufragado onde outro dia me perdi
e, perdido, mergulhei, podendo ir pra onde quiser
Sem sinalizador para poder chamar
alguém de uniforme pra localizar
e me fazer perder o tempo que encontrei
naquele abismo e nas lembranças que inventei
E a viagem prossegui...
E o mar já não estava assim
com suas ondas maltratando o meu semblante preocupado
A calmaria quis ficar e eu não sabia distinguir
o que era do mundo e o que era meu
Todas aquelas pistas que você me deu
pela primeira vez passei a duvidar
O desespero me tomou e eu quis voltar
E numa ilha me abriguei
E de você nem perguntei
praquele jovem marinheiro, a resposta eu temi
Supus a ele acompanhar e nunca mais poder chegar
Mas como chegarei se não sei onde ir?
Mesmo que eu seja livre para decidir...
Então, a liberdade amaldiçoei e,
amaldiçoado, para o mar voltei!
Eu decidi continuar
a rota que nunca existiu
Mas pelo mapa que eu fiz e enterrarei pra alguém achar
e achar que existe algum mistério, achar que eu sou um navegante
cuja alcunha é da mais alta linhagem
ainda não pude encontrar alguma terra
pra atracar e de lá nunca mais sair
e assim contar as lendas de quando eu parti.
|
O ESTRANGEIRO SP, Brazil
O Estrangeiro é uma banda independente de folk psicodélico natural de Lins, uma pequena cidade do Brasil. O nome O Estrangeiro surge inspirado no livro homônimo de Albert Camus e suas letras apresentam questões sobre o mal estar existencial que sobrevoa esses tempos. ... more
Streaming and Download help
If you like Estado de Sítio São Francisco, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp